terça-feira, 19 de julho de 2016

As nuvens amontoavam-se ante os alísios...



“As nuvens amontoavam-se ante os alísios, e, olhando em frente, viu um bando de patos bravos desenhando-se contra o céu, acima das águas, depois esborratando-se, desenhando-se outra vez, e reconheceu que o homem nunca está só no mar.” 

O Velho e o Mar, Ernest Hemingway.

Na ilha por vezes habitada...




Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.

Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.

Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

.
José Saramago In “Provavelmente Alegria”

Não sei se é amor que tens...



"Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.
Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro.
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.
Que mais quero?"
.
12-11-1930
Odes de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)



quinta-feira, 14 de julho de 2016

Paciência


"Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência..."
Paciência - Lenine




Céu de Santo Amaro



Céu de Santo Amaro - Flávio Venturini e Caetano Veloso.

Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu...
Com ela veio a paz, toda beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você...
Meu amor..
Vou lhe dizer
Quero você
Com a alegria de um pássaro
Em busca de outro verão
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei
Na noite do sertão
Meu coração só quer bater por ti
Eu me coloco em tuas mãos
Para sentir todo o carinho que sonhei
Nós somos rainha e rei
Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor nos invadiu...
Então...
Veio a certeza de amar você...

P.S. Esta canção é uma adaptação da música " Arioso" do genial compositor Johann Sebastian Bach. O que não diminui em nada o maravilhoso trabalho de Flávio Venturini e de Caetano Veloso na criação da letra e arranjos.

Uma arte



Uma arte
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
.
One art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

- Elizabeth Bishop, em "Poemas escolhidos — Elizabeth Bishop".
 
 

terça-feira, 5 de julho de 2016

A Busca



A BUSCA
Incansável a busca.
Inalcançável, às vezes.
O passo, o pé, a voz, a alma:
tudo fluindo, a um só tempo, na vazão do sentimento.
É que as batalhas são feitas de longes paragens
e as alegrias dependem de uma ternura poética
que cobre as tristezas e as ultrapassa.
Se o céu se apronta ao amanhecer, o verso tem onde pousar,
mas se o infinito continua escuro
é hora de pescar estrelas, pequenas que sejam,
escondidas no lodo que um dia foi jardim.


Basilina Pereira



sábado, 2 de julho de 2016

As Rosas...



Em 2 de julho de 2016, passamos pelos doze anos da morte de Sophia de Mello Breyner Andresen.


AS ROSAS
Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas
.





Quando souberes envelhecer...

"Quando souberes envelhecer, serás um jovem.
É esplêndido o que poderás fazer quando a manhã romper
e não lamentes nada quando acabar o dia. O mais
importante é sempre o que está para chegar. Repara
como aquela andorinha dirige orações ao vento
que a ajuda a partir e a encontrar o caminho de regresso.
Mesmo em dificuldade, faz como ela. A vida
é um eterno retorno."
.
Joaquim Pessoa.
in "O Pouco é para Ontem"